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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

UM DOMINGO PRA LÁ DE DIFERENTE!

Sábado à noite ligaram para o Breno da Agência Cia 2, propondo um trabalho para o dia seguinte, às 6 horas da manhã em São Paulo.
Ponderando o fato dele ser um iniciante como ator, considero que todas as experiências são importantes, mesmo neste caso sendo um trabalho de figuração.
E assim foi: saímos de Serra Negra às 3 horas de la matina, rumo a um shopping desconhecido em São Paulo, onde seriam feitas as gravações.
Minha bagagem para passar o domingo esperando consistia numa revista de palavras cruzadas, um livro – A psicanálise dos Contos de Fadas (que leio pela terceira vez), uma maçã (para evitar a tentação das docerias) e uma roupitcha de passear no shopping, incluindo um par de sandálias de salto.

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Quando chegamos o burburinho já havia se instalado com as equipes de produção e técnica montando seus equipamentos.
Logo tratei de encontrar um espaço para armar meu acampamento, considerando as longas horas de espera. Neste momento uma moça da agência se aproximou e me perguntou se eu pretendia passar o domingo ali.
Tendo interpretado essa pergunta como uma ocupação inconveniente e indevida do local já ia me apressando em recolher tudo quando ela me convidou para participar das gravações, uma vez que uma das agenciadas não apareceu.
Entre a expectativa (irreal) de ser despejada e ainda perder a gravação do meu filhote, além da possibilidade de uma nova experiência, obviamente a resposta foi... SIM, ACEITO!

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Após a assinatura do contrato que incluiu além da divulgação do trabalho e direitos de imagem o acordo de um lauto cachê de cem reais, passei pelos figurinistas, maquiadores e cabeleireiro. Nessa altura eu já vislumbrava a possibilidade de me tornar uma grande atriz.
Entrei numa van junto com os demais atores rumo a um ponto de ônibus qualquer dentre os infinitos de Sampa. Isso foi por volta das 7 da manhã.
Logo percebi que o negócio não era moleza. Muito monta-desmonta-ajeita-refaz. A minha função de transeunte consistia em caminhar atrás do ponto de ônibus. E foi o que fiz, ou melhor todos fizemos cada um na sua função, umas 20 vezes.

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De volta ao shopping já me apetecia a maçã. A próxima cena não era minha então tratei de passear pelo set, mundo até então absolutamente desconhecido pra mim. O Breno foi me explicando cada coisa, inclusive para que serve aquele cartaz parecendo uma história em quadrinhos. Trata-se da reprodução de cada cena que faz parte do anúncio e que iria ser filmada. Huuum... Eram doze e somente quatro estavam riscadas, tidas como prontas. Isso significava a gravação naquele dia das outras oito.
Outro detalhe que me chamou atenção foi o trabalho da equipe cenográfica: três moças muito habilidosas tratavam de esconder todas as logomarcas visíveis e criavam outras para serem usadas em cada cena. Isso sem contar que o suco servido numa delas deveria parecer fresco, portanto após cada CORTA! – do diretor, o suco saia do copo para uma garrafa onde era agitado e voltava para o copo, agora com espuminha. Após 2 horas ainda havia espuminha naquele mesmo suco como se tivesse acabado de ser feito.
Trabalho surpreendente também dos figurinistas, cabeleireiros e maquiadores que fizeram os 15 figurantes parecerem 50, apenas mudando as roupas, cabelos e maquiagem. Só eu troquei de roupa três vezes, sendo que as duas blusas de linha que usei me faziam transpirar numa incessante cachoeira entre os seios. Até aquela altura, ou melhor, até o final das gravações, o shopping inteiro em vidro não teve o sistema de ar condicionado ligado.
Afinal outra cena pra mim: Eu descia as escadas com uma sacola de compras assim que o ator espirrasse e saísse em direção ao cumprimento de um amigo.
Detalhe: a minha escada NÃO era rolante e cada vez que a moça da claquete gritava: - Posição iniciaaaaal!... Isso significada subir 15 degraus para novamente me posicionar.
Nessa altura o Breno gravava descendo a escada rolante, junto com um menino de uns nove anos. Quando a moça gritava: - Posição iniciaaaal! Ambos subiam pela escada rolante e não perdiam a oportunidade de fazer caretas pra mim.
Depois de repetir esta cena um zilhão de vezes o diretor achou que ficaria melhor se eu subisse a escada ao invés de descer.
Nota: Vocês ainda se lembram como eu saí de casa pronta para passear no shopping? De sandálias de salto...

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Finalmente o almoço, lá pelas duas. Delicioso e variado. Com toda aquela canseira não houve quem não fizesse prato de estivador. Acho que essa coisa de gente famosa só comer saladinha é mentira. Impossível diante de tanto desgaste. Ou melhor, o meu desgaste. Pensando melhor acho que essa coisa da saladinha até pode ser pra alguns. Não acho que a Thaís Araujo tenha subido tantas vezes uma escada na mesma cena.
Bom... Voltando ao almoço, hora de conhecer um pouco meus colegas do elenco. Muita gente interessante com experiências diversas. Conheci a vovó das Casas Bahia. Muuuito gente boa. Não. Não encontrei nenhuma professora, quiçá uma diretora de escola. Nesse ponto tornei-me a curiosidade. As pessoas queriam saber como eu havia parado ali sendo eu de outra cidade, em pleno domingo e com uma profissão tão diferente. Nessa hora, toda ternurenta eu apontava para o Breno: - Sou mãe daquele moço lindo ali...

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Terminado o almoço seguido de um refrescante sorvete, dentes escovados, xixi básico e nova maquiagem já estávamos todos prontos para as gravações.
Nessa hora ficamos sabendo que a minha cena deveria ser refeita por causa de um detalhe do espirro que não saiu muito bom.
- Posição iniciaaaaal!... Lá vou eu para a escada mais uma vez. Mais outra. Mais outra. Mais um milhão até que o espirro saísse convincente para o diretor.

Detalhe: o que até agora eu não contei é que essa trabalheira toda é uma encomenda do Ministério da Saúde de um anúncio que irá orientar a população quanto aos cuidados que devemos ter com a gripe A quando ela voltar outra vez este ano. Faz de conta que eu não contei nada, para não estragar a surpresa!

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Sete horas. Fomos dispensados. Houve quem ficasse para gravar mais. Duas encantadoras menininhas de uns 2 anos acabaram de ser chamadas. Vestidos impecavelmente passados, cabelinhos ajeitados. Apenas uma iria atuar sentada no carrinho segurando uma bola “contaminada”. A outra em stand by só entrará se a primeira chorar ou não fizer direitinho.
Pais orgulhosos assistindo a gravação. Corujas como eu em relação ao meu filhote. Nem posso recriminar.

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Voltamos pra Serra Negra, duas horas e tal de estrada. Banho. Um dos melhores da minha vida. O Breno exausto dispensou o macarrão com manjericão que preparei num piscar de olhos. Ao maridão apenas beijinho e um boa noite totalmente sem forças. Amanhã conto-lhe os detalhes da minha meteórica carreira de atriz.

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Genteeein... Quando o anúncio passar na tevê não se esqueçam: aquele pontinho loiro subindo as escadas sou eu!